Narrativas periféricas em primeira pessoa: A Videoteca Popular e a Olubayo.

MARIANE DIAZ
4 min readMar 14, 2021

Foi durante a Formação Cruzada do Encontro DICE (Developing Inclusive and Creative Economies) 2021 que André Luiz Pereira, um dos idealizadores da Videoteca Popular e Mariane Diaz, Fundadora da Olubayo se conheceram. Durante quase um mês, em seis encontros, empreendedoras e empreendedores sociais se reuniram para participar de oficinas formativas e conhecer e trocar experiências. Nessa turma com representantes de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, negócios sociais tiveram a oportunidade de ouvir os desafios enfrentados por cada empreendedor/empreendedora social e repensar suas práticas. Dentro desse cenário, de diferentes realidades da Economia Criativa a Videoteca Popular e a Olubayo encontraram pontos em comum: a necessidade das narrativas periféricas em primeira pessoa. Apresentaremos aqui um pouco desses negócios de impacto social que atuam nas periferias, respectivamente em São Paulo e Rio de Janeiro a partir de suas próprias escritas (e vozes).

André conta que: “ A videoteca popular nasce através do coletivo NCA (Núcleo de Comunicação Alternativa) em 2006. Jovens que foram estudantes de vídeo e integravam o coletivo de videopopular na cidade de São Paulo, enxergavam a necessidade de disseminar o conteúdo produzido, assim como fomentar um público consciente. Nos dois primeiros anos teve suporte do programa VAI que foi o que potencializou financeiramente a consolidação da iniciativa. Ocupou espaços como o Sacolão das artes, Fundação Julita e Cedeca interlagos com sua sede e acervo físico.”

Em um dos encontros tivemos a oportunidade de refletir sobre as “Lentes de gênero no empreendedorismo” (ANDE/SP) e discutimos sobre as interseções entre raça, gênero, classe e territorialidade. É fundamental destacar a importância dessas lentes e atentar se dentro das nossas empresas estamos tendo o cuidado de olhar para essas perspectivas.

Mariane Diaz, fundadora da Olubayo destaca a importância da construção de outras narrativas. “A Olubayo é um negócio de Impacto Social que foi incubada pela ONG ASPLANDE (RJ) no programa Rede Impacta Mulher e tem como missão contribuir na construção da equidade racial a partir da produção de brinquedos afro-referenciados e com contação de histórias negras. Eu sou uma mulher negra, periférica, professora que enxerga a urgência de (re)construir nossas narrativas negras e por isso, atuo em meu território local, na zona oeste do Rio de Janeiro.”

Os negócios de impacto social geralmente esbarram no mesmo desafio: a monetização e a sustentabilidade. Tais negócios não só geram impactos sociais e/ou ambientais mas precisam também gerar renda para as pessoas que atuam e prestam serviços.

André nos conta que “Durante esses anos a videoteca realizou festivais de vídeo popular e exibições de vídeos nas quebradas, em espaços como escadões e campos de futebol, desde lá nosso foco sempre foi na distribuição de conteúdo que contrapusesse a grande mídia. Hoje com os desdobramentos de cada integrante e tbm com o fim do coletivo, a videoteca popular vem sendo administrada pela CARAMUJA, produtora criada por Daniel Fagundes, idealizador da Videoteca popular, no atual momento estamos num processo de criação de um streaming de vídeo e plataforma que esses produtores parceiros da videoteca possam utilizar e serem “associados.” No atual momento nosso foco é fazer com que a plataforma seja auto sustentável e possa se manter, ainda não geramos renda para os integrantes do projeto, estamos participando do programa VAI TEC 5 e acreditamos que ao final dessa formação teremos uma estrutura em que a renda gerada fortaleça não só os integrantes da atual equipe, mas também os agentes da produção audiovisual de quebrada, nosso objetivo é que tenhamos estrutura para contar e reproduzir nossas próprias histórias.”

Mariane conta que em 2020 “A Olubayo foi contemplada pela Lei Aldir Blanc/ RJ que fomentou projetos de coletivos e negócios culturais possibilitando que as e os fazedores de cultura tivessem alguma renda para dar continuidade aos seus trabalhos. Isso foi muito importante pois possibilitou que levássemos contação de histórias negras para a Favela do Antares, em Santa Cruz, para a Biblioteca Marginow que é um antigo posto policial que foi transformado em uma biblioteca comunitária. A aprovação na LAB possibilitou que mantivéssemos nossas ações sociais. Parte dessa verba será utilizada para a construção de um site e loja virtual além de pagar uma costureira parceira, também do nosso território para produzir as nossas bonecas e bonecos negros de pano e prototipar novos brinquedos que estão em construção. As formações e incubações que passei foram — e são — essenciais para que eu compreendesse que preciso pensar a Olubayo como um negócio que necessita se sustentar e por isso, percebo a urgência de ter parceiras para trabalhar comigo e espero um dia conseguir dar capacitações e gerar renda para as costureiras que atuam comigo.”

Esse texto foi construído colaborativamente por André Luiz e Mariane Diaz, que constataram que seus negócios se aproximam e dialogam pela necessidade de quererem contar suas próprias histórias. Esperamos fazer intercâmbios de experiências e quem sabe produzir coletivamente um material audiovisual.

Tem possibilidade, viu?

Acompanhe nosso trabalho no Instagram:

@videoteca.popular

@olubayoeducacao

Por André Luiz e Mariane Diaz

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Aprendente das infâncias e contadora de histórias negras.

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